Resumo A medicalização de nomes populares de plantas medicinais é o processo de substituição de nomes populares nativos por nomes de medicamentos comerciais, princípios ativos ou sua indicação terapêutica empregados pela biomedicina moderna. Aparentemente, este processo se intensificou no início dos anos 2000, visto que houve um aumento na quantidade desses nomes em pesquisas etnocientíficas realizadas em comunidades locais no Brasil. Nosso objetivo foi delinear as origens desse processo. Foram revisados dados da “literatura cinza” pré-1980, incluindo 15 livros, compêndios, dicionários e guias de plantas medicinais. Mercúrio e suas corruptelas lexicais foram os únicos nomes medicalizados encontrados antes dos anos 1980. Isso se deve provavelmente ao antigo uso de mercúrio por vários sistemas médicos durante a história humana, inclusive pelos boticários no Brasil desde o século XVII. Além disso, Mercurocromo era uma marca brasileira de antisséptico que provavelmente influenciou o emprego medicalizado do nome mercúrio no passado. As combinações de “Mercúrio” e com epítetos “naturais,” como “Mercúrio-vegetal” e “Mercúrio-do-campo,” podem ser a forma original medicalizada de se nomear plantas medicinais no Brasil.
Abstract Medicalization of common names of medicinal plants is a process that involves replacing popular native names by trademarked names of drugs, active principles or therapeutic indications used by modern biomedicine. In Brazil, this process seems to have been intensified in the early 2000s due to the increasing use of those names in ethnoscientific surveys in local communities. In this study, we aimed to trace the origins of that process. For this purpose, we reviewed data from the “grey literature” pre-1980, including 15 books, compendia, dictionaries, and guides of medicinal plants. Mercury and its lexical changes were the only medicalized names found in the literature before the 1980s. This is probably due to the ancient use of mercury in several medical systems through human history, including by Brazilian apothecaries since the seventeenth century. Moreover, Mercurochrome was the name of a Brazilian trademark of antiseptic that probably influenced the use of medicalized names of mercury in the past. The name “Mercury” and its “natural” epithet combinations, like “Mercúrio-vegetal” (Mercury-plant) and “Mercúrio-do-campo” (Field-mercury), could have been the original medicalized way of naming medicinal plants in Brazil.